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sábado, 12 de outubro de 2013

O voto como moeda de troca

O voto como moeda de troca
Vinícius Montgomery de Miranda
                                                                             
Para o sociólogo francês Émile Durkheim, a solidariedade social é o cimento que mantém a coesão de uma sociedade. Ela, porém, é fruto da interação da consciência individual com a consciência coletiva das pessoas que compõem a sociedade. A consciência individual, embora influenciada pela coletiva, é própria de cada indivíduo, e estaria ligada a sua personalidade e ao seu modo particular de pensar e enxergar o mundo. A consciência coletiva por sua vez, é responsável pela formação dos valores morais da sociedade, dos sentimentos comuns de seus membros e pela noção de certo ou errado. Dessa forma, a consciência coletiva gera uma pressão tácita sobre os indivíduos para que suas decisões estejam em conformidade com os padrões ou valores aceitos pela sociedade. É essa consciência coletiva que mantém a sociedade coesa e organizada em busca do progresso e da qualidade de vida.  

Os valores de uma sociedade, porém, normalmente são modificados ao longo do tempo por influência da evolução tecnológica, da dinâmica demográfica, pelas experiências dos indivíduos ou por modelos sociais - que decorrem da religião, da mídia, do modo de agir das autoridades, dos pais, de professores, de artistas de televisão entre outros. Ocorre que se houver um desgaste de seus valores morais, a sociedade entra em um círculo vicioso, pois, a pressão da consciência coletiva sobre os indivíduos diminui. A partir daí, os indivíduos começam a agir conforme sua consciência individual, que normalmente é muito mais egoísta e materialista. Se a sociedade não esboça nenhuma reação contrária a esse egocentrismo, seja por falta de punição legal ou a reprovação social, cria-se o sentimento de impunidade. É esse sentimento de impunidade que multiplica a transgressão dos valores morais da sociedade. Ocorre então, uma ciranda de falta de respeito ao próximo, desrespeito às leis, aumento de criminalidade, busca pelo enriquecimento material a qualquer custo e toda forma de ação antissocial. Estes são sintomas de uma sociedade com valores desgastados.

É nesse contexto que o agente político tem um papel muito importante na sociedade. Além de representar os anseios da sociedade criando leis que a mantém coesa e no caminho do progresso, ele é um espelho do material humano que constitui essa sociedade. Por isso, quando o agente político não age em prol da coletividade e sim em favor do grupo que o elegeu ou em benefício próprio, estará contribuindo para o enfraquecimento da coesão social. Se isso ocorre em larga escala, a vida em sociedade se torna um jogo, no qual o mais importante é um grupo ganhar em detrimento do outro. É o ápice da máxima em que, o importante é levar vantagem.  No final todos perdem, pois, diminui o capital social da sociedade que é muito importante por gerar credibilidade nas regras, cooperação, inovação e novos negócios.

Ao analisar a crise de representatividade política no Brasil moderno, observa-se que cada vez mais prevalece a ideia da luta de classes ou de grupos de interesses. O mais importante é eleger representantes políticos que defendam os interesses de um grupo particular, independente das consequências econômicas e sociais que isso possa trazer para toda a sociedade. É por esse motivo que cada vez mais aumentam os políticos que enxergam nas eleições uma oportunidade de negócio. O eleitor troca seu voto pela defesa de seu interesse particular. O político aceita defender interesses, mesmo que contrarie a lógica econômica, já que se trata de uma oportunidade única de ganhar prestígio e enriquecer-se rapidamente. Infelizmente quando o eleitor age dessa forma, mesmo que de forma inconsciente, está trocando o futuro de uma sociedade justa e progressista pela sensação imediata de levar vantagem. Trata-se de uma visão míope que supervaloriza o curto prazo. Cria-se uma ciranda perversa que destrói de forma silenciosa todas as possibilidades do país se tornar uma sociedade mais justa e equânime. As consequências são a concentração de renda e a formação de castas sociais, onde uns têm privilégios enquanto outros pagam a conta. Gerações inteiras tornam-se dependentes e sem perspectivas de progresso material e qualidade de vida.


Como superar esse problema? As sociedades mais desenvolvidas perceberam há séculos que fortalecer as instituições pode ser uma saída. Quando a sociedade cria leis que são compreendidas por todos os seus membros e há punição para quem as desrespeita, valores como honestidade, justiça, igualdade e solidariedade passam a ser valorizados e transmitidos de geração em geração. A sociedade se fortalece. Floresce o progresso e a qualidade de vida. Depois de o Brasil se transformar em um país democrático e relativamente rico, está chegando hora de repensar o futuro. Que tipo de sociedade é desejada: aquela em que há ordem, progresso e qualidade de vida ou o salve-se quem puder que costuma predominar em sociedades primitivas?

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