Esse texto da Folha de São Paulo de Vinicius Freire é o retrato do Brasil governado por Dilma. Um governo muito mais preocupado com o marketing (maquiagem) do que com a essência da competente gestão econômica.
Vinicius Torres Freire - Folha de São Paulo
20/01/2013 - 03h00
Maquiado e descabelado
DILMA ROUSSEFF construiu uns puxadinhos no primeiro ano de governo.
Feios, mas talvez apenas uns improvisos provisórios de política econômica. Daí
passou a erguer barracos e ora se muda para umas caixas de papelão na calçada.
Barraco de papelão, ou simplesmente papelão, é o que parecem os remendos
nas contas do governo, maquiadas no final do ano passado com uns artifícios que
não enganariam ninguém nem resolveriam problema concreto algum.
Em seguida, Dilma mendigou uns adiamentos de reajustes de ônibus e metrô
com governos de São Paulo e Rio. Queria evitar a impressão de descontrole, uma
alta de preços que estourasse a meta nos próximos meses, o que deixaria o
governo ainda mais mal falado. Mas, para usar uma frase original, a emenda
piorou o soneto.
Dilma ameaça desmoralizar a ideia de que existem políticas econômicas
alternativas àquelas pregadas por economistas-padrão, mercadistas e viúvas do
governo FHC. Remendos e puxadinhos não são alternativas.
Toma atitudes que não fazem lé com cré. Talhar a indecente taxa de juros
básica a machadadas poderia ser boa coisa. Mas não funciona se o governo gastar
mais, seja diretamente ou por meio de endividamento com o objetivo de turbinar
os bancos públicos. Não funciona porque alimenta a inflação, que o governo quer
disfarçar. Mais um pouco (de inflação) e os juros vão subir, sem que o país
tenha saído do lugar.
O governo gasta mais e mal, de resto, vitaminando o consumo, sem
investir mais.
De certo modo, ainda tênue, as medidas econômicas de Dilma lembram
bobagens dos governos de esquerda, "populares", da América Latina da
segunda metade do século 20, ruins não porque "populares", mas porque
destrambelhados e ingênuos. Queriam distribuir renda rapidamente, por vias
tortas, o que dava em inflação, a qual tentavam domar com tabelamentos e coisas
do gênero, o que dava em escassez.
Somadas, carestias e carências davam em tumulto e, assim, serviam de
desculpa para a direita dar golpes.
Estamos, claro, muitíssimo longe disso. Mas Dilma também tenta controlar
lucros e preços, fazer "política de rendas" (na Petrobras, em tarifas
públicas, com bancos etc.). Mexe em efeitos em vez de tratar das causas.
Continuou a aumentar demais o mínimo, para o que ainda houve alguma folga no
governo Lula, mas não mais agora. A alta do mínimo ora ajuda a estourar as
contas do governo e aduba a inflação.
Dilma não tem ministros capazes; não delega, pois, e se ocupa de muita
coisa ao mesmo tempo, em geral de muita coisinha. Se presta a megalomanias
(trens-bala) quando seu governo não consegue nem construir postes para
transmitir eletricidade de usina que está pronta (quando falta energia no
país); o investimento federal caiu desde que assumiu. Acha que pode
"destravar" o investimento no país pedindo dicas a uns empresários e
dando safanões noutros.
Tem escassa noção de macroeconomia, mas se acredita guia genial da
política econômica; não tem planos de médio prazo. Achou que perderia tempo se
dedicando a reformas grandes e agora se perde em miudezas. Seu governo parece
não ter tempo senão para maquiagens, mas parece descabelado.
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