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domingo, 20 de janeiro de 2013

A credibilidade e o panem et circenses


A credibilidade e o panem et circenses
Vinícius Montgomery de Miranda

Os problemas econômicos atingiam o Império Romano com desemprego e inflação, quando o imperador Otávio Augusto (27 a.C. – 14 d.C.) criou a política do pão e circo. Essa política consistia em promover lutas sangrentas entre gladiadores no Coliseu e distribuir pão gratuitamente à população na entrada do estádio. Com essa política, a insatisfação da população com os problemas econômicos era amenizada. Contudo, ela cobrou um preço muito elevado: em curto espaço de tempo, os impostos foram elevados e a inflação e o desemprego pioraram.
No Brasil, durante a década de 1980, diversos planos econômicos tentaram derrotar a elevada inflação que destruía qualquer possibilidade de planejamento e, portanto, de crescimento econômico. Os planos fracassaram, pois, além de medidas insuficientes para controlar a elevação dos preços, os governos não tinham credibilidade. A manipulação de índices inflacionários e dos números da contabilidade nacional gerava nos agentes econômicos a certeza de que a aparente tranquilidade era equivalente à calma que antecede a uma tempestade.
A credibilidade foi reconquistada a duras penas com o Plano Real. A Lei de Responsabilidade Fiscal produziu maior controle nos gastos públicos e transparência. A firmeza na condução da política econômica dos ministros Pedro Malan (governo FHC) e Henrique Meirelles (governo Lula) fez o mundo voltar a acreditar no Brasil. Os investimentos dispararam, empregos foram criados, a moeda se valorizou, e o Brasil teve a sensação de que finalmente viraria um país rico.
Infelizmente esse cenário amplamente favorável começou a se modificar com as crises internacionais e a substituição de Meirelles por Guido Mantega como ministro da Fazenda. Para amenizar o efeito dessas crises, o governo Lula ampliou os gastos. Entraram em cena o aumento do salário mínimo acima da inflação, a renúncia fiscal (redução de tributos como o IPI), a ampliação dos gastos sociais (bolsa família, vale-gás, bolsa-escola, etc.). O governo fez muito esforço para que o país ganhasse o direito de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A população inebriada pelos ganhos salariais e pelos jogos que se aproximam, elevava a popularidade dos governantes às alturas. Enquanto isso, silenciosamente, o resultado das contas do governo se deteriorava.
2012 foi o ano em que pela primeira vez se percebeu que a política do pão e circo cobraria um preço. A falta de investimentos e o elevado custo de produção no país fez a indústria nacional perder ainda mais terreno para os produtos asiáticos. O ano terminou com uma redução de 34,8% no superávit da Balança Comercial (o pior resultado em 10 anos). O golpe de misericórdia na credibilidade da política econômica veio nos últimos dias do ano, quando o governo resolveu manipular o resultado de suas contas de forma a manter o superávit primário. Isso é equivalente a travar o ponteiro de um velocímetro para dizer que o limite de velocidade foi respeitado. Se o governo manipula o resultado de suas contas ao invés de cortar gastos, que garantia os agentes econômicos terão de que não manipulará também os índices de inflação e outros números econômicos? A Argentina serve de exemplo.
Perdeu-se a credibilidade. Deus queira que isso não signifique uma volta ao passado de inflação galopante e paralisia econômica. Pode ser que a enorme tempestade que se forma no horizonte se dissipe, mas seus ventos começam a chegar, cada vez mais intensos. Por enquanto a população, muito bem alimentada, se distrai com o espetáculo.
Publicado no Jornal O Sul de Minas de 19/01/13.

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