A produtividade, a educação e a competição global
Vinícius Montgomery de
Miranda
O artigo anterior tratou da importância do aumento de produtividade para
o desenvolvimento econômico. Mas quem seria responsável pelo aumento de
produtividade em uma economia? A produtividade é uma medida da eficiência do
processo de transformação que ocorre nas empresas. Nesse processo elas adquirem
insumos (matéria prima, mão de obra, energia e outros) e os transformam em
produtos e serviços que são vendidos ao mercado. Porém, existem diferentes
tecnologias para transformar esses insumos em produtos e serviços. Cabe ao
empresário a decisão de escolher a tecnologia que considere mais adequada para
isso, assumindo os riscos inerentes às suas escolhas. Se ele for bem-sucedido, colherá
os frutos (lucros) de suas opções.
Como as tecnologias são desenvolvidas a
partir do conhecimento e o conhecimento se renova a todo instante, elas são
aperfeiçoadas, modificadas e substituídas. O empresário, desejando obter lucro
em seu empreendimento, estará o tempo todo buscando tecnologias mais modernas
que torne seu processo de produção mais eficiente. A tecnologia, entretanto,
pode ser desenvolvida internamente, através de pesquisa e desenvolvimento, ou
adquirida de outras empresas. Nas duas situações, o empresário precisará fazer
investimentos em equipamentos e pessoas, que desempenham um papel fundamental
no desenvolvimento de novas soluções e na absorção de novas tecnologias. Daí a
relevância da contratação de recursos humanos capacitados para tornar a empresa
inovadora e eficiente. Surge então uma dúvida bastante pertinente: é possível que
um país avance tecnologicamente tendo uma mão de obra pouco qualificada? Os
números comprovam que não. Os países mais inovadores e que mais registram
patentes são justamente aqueles com uma população mais escolarizada e cujas
sociedades mais valorizam o ensino, principalmente na área das ciências.
Dois exemplos de nações que elegeram a
educação como prioridades e que hoje se destacam no cenário global com empresas
competitivas e inovadoras são a China e a Coreia. Mas isso não foi sempre
assim. Há quatro décadas China e Coreia eram países tão atrasados quanto o
Brasil. O que mudou desde então? A evolução de empresas coreanas e chinesas foi
precedida de um planejamento estratégico feito décadas atrás onde um ensino de
qualidade tornou-se prioridade. Mas o Brasil não evoluiu também? Nem tanto. No
teste PISA (que avalia a qualidade do ensino de pelo menos 70 países), o Brasil
sempre aparece entre os vinte piores em matemática, ciências e linguagem. Nos
últimos 15 anos, o país aumentou consideravelmente os investimentos em
educação, mas será que ele estaria preparado para competir com os asiáticos no
cenário globalizado? Não é difícil responder a essa questão quando se considera
a qualidade do ensino fundamental no país, as greves no ensino público, a falta
de meritocracia e de indicadores de desempenho de alunos, professores e
gestores, e principalmente, o valor que a sociedade atribui à educação.
No próximo artigo será discutido qual o
papel do governo nas economias modernas.
Publicado no Jornal O Sul de Minas de 28 de Julho de 2012. Edição, Nº 3.508.
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