A produtividade é considerada uma das variáveis mais importantes nos
estudos de economia (a ciência da escassez). Ela é definida como a relação
entre o valor dos produtos e serviços produzidos em um processo produtivo, e os
insumos (matérias-primas, mão de obra, energia e outros) utilizados na produção.
Em outras palavras, a produtividade é a medida da competência de uma
organização em transformar insumos em bens finais que atendam às necessidades
de seus clientes. Essa transformação decorre do encadeamento de atividades que modificam
e recombinam materiais, alteram suas propriedades e incrementam o valor de seu
subproduto. Logo, sem transformação não seria possível agregar valor ao produto,
que é imprescindível para atrair a atenção do consumidor. Afinal, ele paga um
preço pelo bem adquirido, em troca do valor daquilo que resolve o seu problema
ou satisfaz sua necessidade. Como os consumidores são diferentes e apresentam diferentes
necessidades e desejos, o valor atribuído aos bens que consomem difere de
consumidor para consumidor. É exatamente essa subjetividade na
atribuição de valor que estimulou o economista austríaco Carl Menger a desenvolver
a Teoria da Utilidade Marginal. Nessa teoria, Menger explica que o valor dos
bens não depende da complexidade de sua produção ou da quantidade de insumos
utilizados para tanto, mas sim da utilidade atribuída ao bem pelo comprador
final.
Por outro lado, ao se analisar o processo de transformação de uma
organização, é possível observar que além das atividades que transformam
insumos, há também aquelas que, apesar de gerarem custos, não agregam valor. São
atividades como o set up de máquinas,
o transporte de materiais e a manutenção dos estoques, que embora sejam inerentes
ao processo produtivo, não produzem transformação. Cabe então à gestão da
organização, repensar e remodelar o processo produtivo, ou aplicar novas
tecnologias (a automação, por exemplo) a fim de minimizar ou eliminar essas
atividades, o que garante o aumento da produtividade do processo. É certo,
entretanto, que os ganhos de produtividade das organizações trazem uma gama de
benefícios para empresas, consumidores e a sociedade em geral. Para a
organização, esses ganhos resultam na expansão do lucro, uma vez que processos de
maior produtividade utilizam menor quantidade de insumos (custos) para a mesma
produção (faturamento), ou obtêm maior produção, para um menor ingresso de
insumos. Esses lucros, oriundos da produção mais eficiente, frequentemente são
reinvestidos na ampliação da produção, na sofisticação do processo de produção,
na criação de novos produtos ou na busca de novos mercados, o que gera maior
concorrência entre empresas. É aí que o consumidor se beneficia; por poder
contar com uma maior oferta e variedade de produtos, além da maior qualidade e do
menor preço encontrado.
As demais empresas também se beneficiam pelo maior poder aquisitivo do
consumidor, diante de preços mais acessíveis; resultado da combinação de maior
eficiência produtiva e concorrência. Quando isso ocorre, há um aumento geral do
nível de renda da economia do país e o aumento da qualidade de vida é sentido
em todas as classes sociais, especialmente naquelas de menor renda. Porém, nas
sociedades e nos setores onde há maior intervenção estatal, a
redução dos preços não é experimentada e não há sequer estímulo para que se
busque o aumento de produtividade. Pelo contrário, passa valer mais a pena tentar
algum tipo de proteção estatal (protecionismo) que signifique vantagem competitiva
em relação à concorrência interna e externa. Toda e qualquer disposição para a
inovação e a excelência dão espaço para a letargia. O ímpeto empreendedor perde
espaço para a indolência e a dependência do Estado.
Para que os benefícios da maior produtividade resultem em aumento da
renda e maior qualidade de vida, é importante, portanto, que o empreendedor
tenha liberdade para empregar a tecnologia que julgar mais adequada, para contratar
a mão de obra mais produtiva pelo menor custo, e para buscar as parcerias que considerar
necessárias. Assim, torna-se possível reduzir custos e dividir com a sociedade
os ganhos de produtividade, em um cenário de concorrência aberta. Naturalmente,
haverá empresas com diferentes níveis de eficiência no processo de transformação
de insumos, conforme a competência de sua gestão e o maior ou menor grau de
sofisticação desse processo. Inevitável, portanto, que as empresas menos
eficientes, sem a artificial proteção do Estado, percam espaço para aquelas que
utilizem recursos escassos de forma mais competente. Assim, a falência de
empresas menos eficientes não somente é algo natural, como desejável, uma vez
que possibilitaria a transferência de recursos para empreendimentos mais saudáveis
e promissores.
É nesse contexto que os autores de economia neoclássica colocam o
aumento da produtividade como a única fonte de crescimento da renda per capita e
prosperidade no
longo prazo. A expansão na geração de caixa dos empreendimentos mais produtivos
estimula novos investimentos, que realimentam o ciclo virtuoso do
desenvolvimento da economia. Sendo, portanto, a produtividade tão importante
para a exuberância de uma economia, como é possível medi-la e quais fatores a
influenciam? A medida usualmente utilizada para calcular a produtividade de uma
economia é a Produtividade Total dos Fatores (PTF). Em economias onde há o emprego
de novas tecnologias, atuação competente da gestão para tornar os processos
mais inteligentes ou a utilização de insumos de melhor qualidade, a PTF é
alavancada. Ocorre que avanços na PTF e no estoque de capital físico (máquinas
e equipamentos) aumentam a produtividade do trabalho (valor produzido por
trabalhador). Isto é, se a mão de obra capacitada encontra condições de
trabalho que a permite fazer mais com menos insumos, a produtividade aumenta e
o valor por trabalhador avança, espalhando prosperidade na economia.
Em contrapartida, são muitos os fatores que reduzem a produtividade de
uma economia, minando o crescimento da prosperidade. Para começar, quando o
ambiente econômico de negócios é hostil, há redução do nível de investimento e
da diversificação de atividades produtivas. O excesso de burocracia e a tributação
desmedida também são prejudiciais, pois, aumentam o custo de operação e o risco
do negócio. Aliás, o Brasil é um dos poucos países do mundo em que a expansão
comercial é temida pelo empresário, pois, ninguém em sã consciência gostaria de
mudar de regime tributário e passar a pagar uma maior alíquota de impostos. Tudo
isso para manter uma máquina estatal inchada, ineficiente e perdulária. Na
prática, o leviatã estatal, com seu insaciável apetite por taxar, acaba por
sufocar o setor produtivo. Gerar riqueza e progredir torna-se uma atividade tão
regulada que faz parecer indesejada. Não por acaso, o país perde posições em
rankings mundiais de competitividade.
Produzir com baixo custo e alta qualidade diante da profusão de regras, papéis,
taxas, licenças, carimbos e alvarás, é quase inexequível.
Como seria possível ter segurança para investir, se os legisladores
primam por criar leis excessivamente intrusivas e de interpretação dúbia? Como
ter segurança jurídica para empreender se predomina o ativismo jurídico e até o
nosso passado é considerado incerto? Negócios saudáveis são projetados para
durar, mas o ambiente jurídico kafkaniano do Brasil dificulta o planejamento
estratégico. Sem um mínimo de clareza a respeito da projeção de cenários
futuros, o risco de inovar, buscar novas soluções para os problemas e idealizar
novos negócios é proibitivo. É exatamente pela falta de espaço para o processo
natural de destruição criativa que as empresas nacionais se tornam presas
fáceis para a concorrência internacional, que encontra muito mais liberdade
para experimentar, cooperar e prosperar. O Estado com seu dirigismo
constitucional e a política de campeões nacionais apenas reforça a dependência
dos subsídios estatais ao invés de estimular a concorrência e garantir o
direito de propriedade. Ganham as grandes empresas e os setores oligopolizados,
que contam com o capital barato do BNDES. Perdem os contribuintes e os pequenos
negócios que não conseguem créditos para modernização e ampliação da produção.
Outro aspecto que dificulta o aumento da produtividade no Brasil é a
qualificação da mão de obra. Apesar da recente expansão do acesso à educação, a
qualidade do ensino brasileiro medido pelo Programa Internacional de Avaliação
de Estudantes (PISA) continua abaixo do que seria razoável em ciências,
matemática e leitura. Parece não haver preocupação alguma em preparar a mão de
obra para as reais necessidades do mercado de trabalho. Conteúdos genéricos, humanistas
e até ideológicos prevalecem sobre o ensino de lógica, de comunicação escrita
ou de ciências. Por isso, um enorme contingente de talentos, que poderia estar
colaborando para alavancar a prosperidade do país, com a criação de novos
negócios e de empreendimentos que transformem problemas em oportunidades, é
seduzido pela cultura do funcionalismo
público. Todos em busca de estabilidade no emprego, salários
acima da média do mercado e aposentadorias especiais; privilégios que
concentram renda e inflam a bomba fiscal, prestes a estourar.
Mesmo com investimentos da ordem de 5% do PIB em educação, praticamente
a mesma média de investimentos dos países da OCDE (países ricos), o Brasil
continua colhendo resultados
muito aquém do que seria necessário para um salto de produtividade. O
empresário Flávio Rocha, presidente da Riachuelo e líder do movimento Brasil
200, costuma dizer que a educação do Brasil forma perdedores. São profissionais
sem o conhecimento mínimo básico de empreendedorismo, de economia e de visão de
mundo, e, portanto, muito longe da necessidade atual das empresas, imersas em
um cenário de concorrência cada vez mais acirrada. Além disso, muitos profissionais
de melhor formação acabam sendo alocados em serviços tradicionais, de baixo
conteúdo tecnológico e em setores menos dinâmicos da economia. É o que os
pesquisadores do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia), no livro Anatomia da
Produtividade no Brasil, chamam de baixa taxa de conversão da escolaridade em
produtividade.
As deficiências da infraestrutura de produção, transporte e
armazenamento também concorrem para a baixa produtividade da economia
brasileira. Nenhum outro país de dimensões continentais depende tanto do
transporte rodoviário para a conexão de produtores e consumidores como o
Brasil. Não faz sentido escoar a enorme produção agropecuária de exportação
através de rodovias estreitas, esburacadas e vulneráveis à pilhagem. Perde-se
tempo, aumentam os custos e os riscos de acidentes. Tudo isso porque o Estado
se recusa a abrir mão da execução e da gestão de obras e estruturas de produção
e transporte, que a iniciativa privada faria melhor e mais em conta. O país
paga um alto preço em termos de geração de empregos e carestia por insistir na
predominância estatal, que ainda traz como corolário o elevado nível de
corrupção. São obstáculos engendrados pela ideologia socialista que aprisiona
uma das economias de maior potencial do planeta aos caprichos de políticos e
burocratas de plantão.
Por fim, a produtividade da economia depende ainda de sua capacidade de integração
à economia internacional e da participação de empresas em cadeias produtivas
globais. Barreiras protecionistas contra o comércio
exterior, restrições aos investimentos e à atuação de profissionais
estrangeiros, e a legislação trabalhista paternalista dificultam a divisão de
trabalho e a especialização da mão de obra. Na Teoria das Vantagens
Comparativas, o economista inglês David Ricardo mostra que não faz sentido um
país querer produzir tudo o que consome, ainda que isso seja possível. Como o tempo
e os recursos são escassos, focar na produção de bens nos quais o país é mais
eficiente, maximiza
seus ganhos e os excedentes gerados podem ser usados na aquisição dos
demais bens, que de outra forma, seriam produzidos a custos mais elevados e com
qualidade inferior aos importados.
Portanto, se o objetivo da nação é proporcionar aos seus cidadãos um
maior nível de qualidade de vida, maior conforto material e uma existência mais
saudável, é preciso urgentemente abandonar a mentalidade anticapitalista e
valorizar a liberdade de ação dos agentes econômicos. Esses são requisitos
fundamentais para disseminar a prosperidade, pois, somente o aumento da
produtividade faz destravar o ciclo virtuoso da economia. Se isso ocorrer, as
empresas se tornam mais lucrativas, os trabalhadores são mais bem remunerados,
as condições de trabalho são aprimoradas, os consumidores passam a ter mais
opções de bens de qualidade superior e preços baixos e, independente das
escolhas individuais, o bem-estar social deixa de ser uma utopia para se tornar
uma realidade permanente ao alcance de todos.
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