O assistencialismo e a competição
Vinícius Montgomery de
Miranda
Os biólogos que cuidam de animais
selvagens criados em cativeiro sabem que é muito complicada sua readaptação ao
habitat natural. Esses animais perdem a capacidade de lutar pela sua própria
sobrevivência, ganham peso e adoecem. Atletas de alta performance também sabem
que poucos dias sem atividades físicas atrofiam músculos, faz diminuir a massa
muscular e aumentam o percentual de gordura no corpo. Essa é a lei natural da
vida. O homem e todos os seres vivos foram criados para a competição.
No ambiente econômico, a
competição entre empresas é a raiz de todo o processo de inovação de produtos e
serviços. É para conquistar mais clientes e aumentar resultados que as empresas
se arriscam, investindo em ideias que se transformam em novos produtos. A
seleção natural econômica premia as empresas mais eficientes e mais inovadoras,
garantindo-lhes a sobrevivência. Goste-se ou não, o homem não tem poder de
alterar essa lei da vida. Quando tenta fazê-lo, o resultado é desastroso; como
se observa em países como Cuba, Coreia do Norte ou Venezuela, onde a qualidade
de vida piora a cada ano.
Por outro lado, os países que entendem
que a competição é bem-vinda, atingem elevado grau de desenvolvimento. Muitas
vezes, mesmo sendo pobres em recursos naturais, como é o caso do Japão, tornam-se
inovadores, desenvolvem uma indústria dinâmica e elevam a qualidade de vida de
sua população. O Brasil e grande parte dos países da América Latina receberam
uma herança cultural, histórica e religiosa que abomina a competição. Dessa
forma, mesmo com toda a riqueza natural que possuem, não conseguem romper com
as amarras que os prendem na condição de subdesenvolvidos.
No caso do Brasil, infelizmente a
sociedade hesita em valorizar os cidadãos que se esforçam para ter uma vida
digna. Muito pelo contrário. Para esses cidadãos sobram burocracia e tributos. Portanto,
há um verdadeiro incentivo à cultura do mínimo esforço. É como se houvesse uma
punição pelo esforço próprio, diante das benesses do dolce far niente. Daí a grande popularidade de programas sociais
como o da Bolsa-Família. O que era para ser uma ajuda emergencial com o
objetivo de reduzir a pobreza e diminuir a disparidade de renda, tornou-se meio
de vida. A lógica da assistência social é que ela deveria durar apenas o
suficiente para que o beneficiado se capacitasse para retornar ao mercado de
trabalho. Entretanto, o que se observa país afora é que muitos chefes de
família preferem manter-se na condição de desempregados ou de trabalhadores
informais para continuar recebendo ajuda estatal. Os políticos espertalhões
agradecem. Trata-se do voto cabresto institucionalizado, potencializado pela
baixa escolaridade.
O problema maior desse assistencialismo são as oportunidades
perdidas pelo país. Não há na história econômica da humanidade país que tenha
se transformado sem valorizar o esforço de seus cidadãos. Coreia e China são
exemplos de nações que conseguiram superar adversidades ao apostar na
meritocracia e na educação. Não há segredo. Uma população mais escolarizada
torna-se mais preparada para a competição do mundo atual. Os empregos são
melhor remunerados. Novos negócios surgem. A qualidade de vida avança. Por que
então insistir em um modelo que não deu certo em lugar algum? Porque o modelo
atual gera domínio e dependência. Beneficia quem está no poder. Porque não há
projetos para o país e principalmente porque quando as consequências negativas
do modelo chegar, talvez o governo seja outro. E como diria John Maynard Keynes,
no longo prazo todos estaremos mortos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário