A tragédia do crescimento raquítico do PIB atesta a incapacidade da política econômica em atrair os investimentos produtivos.
O quadro ao lado fala por mil explicações esfarrapadas. O eixo horizontal mostra as taxas de investimentos produtivos dos países. No eixo vertical, aparece a variação de crescimento do PIB dos mesmos países. 5ão valores médios para os dez anos encerrados em 2011. Fica evidente uma correlação: quanto mais elevada a taxa de investimento, maior tende a ser o crescimento. A China investe muito, acima de 40% de seu PIB, e também cresce muito. O Brasil investe pouco, e o crescimento nada tem de espetacular. Os investimentos são o alimento da expansão econômica. Não existe avanço duradouro sem infraestrutura, oferta ampla de mão de obra capaz, ampliação e renovação das fábricas, construção de usinas - ou, em resumo, sem aumento da produtividade.
O governo sabe disso. Desde o início de seu mandato, Dilma Rousseff tinha o diagnóstico de que não poderia contar apenas com o aumento do consumo e do endividamento dos brasileiros para embalar a economia. A meta era elevar a taxa de investimentos para 24% do PIB, um valor que seria condizente com a ambição de crescer ao ritmo de 5% ao ano. O governo chegou a anunciar um plano abrangente de estímulo aos investimentos na infraestrutura, com a promessa de privatizar portos e estradas. O mandato de Dilma se aproxima de sua metade e, até o momento, o plano não deslanchou. De acordo com os números divulgados pelo IBGE na sexta-feira, os investimentos estão em queda há cinco trimestres consecutivos. Esse tem sido o aspecto mais negativo no desempenho da economia, restringindo o avanço do PIB como um todo. Ainda segundo o IBGE, a economia cresceu apenas 0,6% no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior. O número representou uma ligeira aceleração na comparação com o ritmo verificado no início do ano, mas ainda assim ficou na metade do que haviam previsto os analistas econômicos e também o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Posso afirmar que a economia está em trajetória de crescimento, embora não tanto como gostaríamos", disse Mantega na sexta-feira. O ministro voltou a prometer uma nova rodada de estímulos econômicos para assim alcançar, quem sabe ainda no próximo ano, um avanço ao redor de 4%.
"Vivemos um esgotamento da nossa capacidade de crescimento", afirma o analista José Paulo Rocha, sócio da consultoria Deloitte. "O mercado brasileiro cresceu, muitas pessoas ascenderam socialmente e viram o seu padrão de vida melhorar. Mas, quando a importância que o consumo tem para o crescimento do PIB atinge os níveis atuais do Brasil, o potencial de expansão da economia fica limitado. Precisamos dar atratividade aos investimentos privados, criando as condições necessárias para que eles sejam remunerados adequadamente."
Nesse aspecto, as ações do governo têm sido contraditórias. Três grandes aeroportos, por exemplo, foram finalmente privatizados, e em breve deverão operar em condições bem superiores às atuais. Já outros pontos do planejado "choque de capitalismo" petista ficaram no discurso. Ele nada progrediu nos projetos para as estradas e ferrovias. A privatização de terminais portuários, que deveria ocorrer no início do ano, poderá atrasar porque essa área está diretamente ligada ao escândalo de corrupção recente envolvendo as agências reguladoras e a Advocacia-Geral da União. Os investimentos no pré- sal estão paralisados porque há quatro anos não há licitações para a exploração de novas jazidas petrolíferas. Mesmo obras antiquíssimas como a transposição do São Francisco e a Ferrovia Norte-Sul não ficarão prontas antes do fim do mandato de Dilma, segundo projeções do próprio governo.
Pouco foi feito para retirar barreiras como a complexidade tributária. Para completar, a interferência do governo em diversos setores, como nos bancos e nas empresas do ramo de energia, injetou uma boa dose de desconfiança nos investidores nacionais e estrangeiros. Empresário sem confiança no futuro não investe. O efeito é que, apesar de os juros e de o desemprego nunca terem sido tão baixos, a economia permanece virtualmente estagnada há dois anos. A economista Tatiana Pinheiro, do Santander, estima que o PIB dificilmente crescerá acima de 1 % neste ano: "Os estímulos monetários e fiscais vão incentivar o consumo e os gastos públicos, mas os investimentos fracos limitarão o avanço da economia".
Na semana passada, o IBGE divulgou também números que mostraram o acelerado envelhecimento da população brasileira. É um alerta de que no amai ritmo de crescimento da economia o Brasil perderá o "bônus demográfico", período em que a maior parte da população está em idade produtiva, ideal para dar um salto de desenvolvimento. Sem uma reação do PIB, será um salto no abismo.
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