A Privatização e o Complexo de Coitadinho do Brasileiro
Na psicologia, o complexo de vítima (ou
de coitadinho) é a patologia na qual o indivíduo tende a culpar os outros por
suas mazelas. Desse complexo vem a impressão absurda de que os outros é que
estão sempre errados. Isso causa cegueira e destroi a autocrítica. O brasileiro
por questões históricas e culturais se acostumou a culpar os outros pelo seu
fracasso. Renato Russo muito inteligentemente captou a contradição entre o que
o brasileiro pensa e suas atitudes quando compôs a música Que País é Esse em 1978. Como é possível acreditar no futuro da
nação se ninguém respeita a Constituição?
No ranking global de competitividade,
dentre 142 países analisados, o Brasil está entre os 25 com pior qualidade de
infraestrutura de estradas, portos e aeroportos. O consultor de logística e
infraestrutura da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Luiz Fayet afirma
que a infraestrutura brasileira está estagnada e em deterioração. Para recuperá-la
é preciso muito investimento. O governo federal, apesar da carga tributária de
aproximadamente 40% do PIB (uma das mais altas do planeta), não tem recursos
para investir. Se a arrecadação é tão elevada e o investimento é
insignificante, é fato que há ineficiência na gestão. Por exemplo, não é recomendável que haja
gastos tão elevados com pessoal (acima de 60% da receita líquida) e com
previdência e assistência social. Para resolver essa questão é preciso executar
as reformas há muitos anos prometidas. Até que elas saiam do papel, por que o
governo não abre espaço para a iniciativa privada investir já que não tem
recursos para fazê-lo?
A iniciativa privada é muito mais
eficiente e tem a técnica e os recursos necessários. O governo não lhe dá
espaço por que privatizar, erroneamente, virou sinônimo de “entregar o
patrimônio” ao estrangeiro, na mente do brasileiro complexado. Se até a China
comunista privatiza e desfruta de seus benefícios, por que o Brasil não pode
fazer o mesmo? Em um trabalho acadêmico na Revista Brasileira de Economia, o
professor da USP Roberto Macedo analisa o desempenho de empresas brasileiras
privatizadas e não deixa dúvidas de que elas se tornaram muito mais lucrativas
e operacionalmente mais eficientes. Apesar das evidências e dos exemplos
incipientes adotados no próprio país e no exterior, a grande maioria ainda
pensa que privatizar é ruim. Infelizmente, enquanto persistir a falta de
conhecimento da população e a esperteza de alguns políticos, o brasileiro
continuará reclamando de estradas esburacadas, enfrentando aeroportos saturados
e culpando os outros pela sua vida sofrida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário