Visitantes

Eu amo montanhas

Eu amo montanhas
Montanhas...

Welcome to Vinicius Montgomery Blog

Você é sempre bem-vindo. Deixe seus comentários, críticas construtivas e sugestões. Volte sempre. Muito Obrigado.



You´re always welcome. Let your comments, positive critics and suggestions. Please come back soon. Thank you very much!

Pesquisar este blog

Isaías 9.6.

Um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz.

domingo, 12 de setembro de 2010

Artigo do presidente Fernando Henrique no Estadão

Fernando Henrique vai direto ao ponto em outro artigo antológico:


‘Democracia é o governo das leis, e não das pessoas’

Neste domingo, a inteligência e a dignidade do ex-presidente Fernando

Henrique Cardoso iluminaram a edição dominical do Estadão. Leiam o que

escreveu o chefe de governo que tivemos. Ouçam o que anda dizendo o

chefe de governo que temos. Imaginem o que serão quatro anos com Dilma

Rousseff ouvindo ordens de Lula e ideias sopradas por dirceus,

paloccis, collors e sarneys. Pensem no Brasil. E lutem. Como ensina

FHC, eleição se ganha no dia.



Bom domingo. E boa leitura:





Vivemos uma fase de democracia virtual. Não no sentido da utilização

dos meios eletrônicos e da web como sucedâneos dos processos diretos,

mas no sentido que atribui à palavra “virtual” o dicionário do

Aurélio: algo que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito

atual. Faz tempo que eu insisto: o edifício da democracia, e mesmo o

de muitas instituições econômicas e sociais, está feito no Brasil. A

arquitetura é bela, mas quando alguém bate à porta a monumentalidade

das formas institucionais se desfaz num eco que indica estar a casa

vazia por dentro.



Ainda agora a devassa da privacidade fiscal de tucanos e de outras

pessoas mais mostra a vacuidade das leis diante da prática cotidiana.

Com a maior desfaçatez do mundo, altos funcionários, tentando elidir a

questão política – como se estivessem tratando com um povo de parvos

-, proclamam que “não foi nada, não; apenas um balcão de venda de

dados…” E fica o dito pelo não dito, com a mídia denunciando, os

interessados protestando e buscando socorro no Judiciário, até que o

tempo passe e nada aconteça.



Não tem sido assim com tudo mais? O que aconteceu com o “dossiê”

contra mim e minha mulher feito na Casa Civil da Presidência da

República, misturando dados para fazer crer que também nós nos

fartávamos em usar recursos públicos para fins privados? E os gastos

da atual Presidência não se transformaram em “secretos” em nome da

segurança nacional? E o que aconteceu de prático? Nada. Estamos todos

felizes no embalo de uma sensação de bonança que deriva de uma boa

conjuntura econômica e da solidez das reformas do governo anterior.



No momento do exercício máximo da soberania popular, o desrespeito

ocorre sob a batuta presidencial. Nas democracias é lógico e saudável

que os presidentes e altos dirigentes eleitos tomem partido e se

manifestem em eleições. Mas é escandalosa a reiteração diária de

posturas político-partidárias, dando ao povo a impressão de que o

chefe da Nação é chefe de uma facção em guerra para arrasar as outras

correntes políticas. Há um abismo entre o legítimo apoio aos

partidários e o abuso da utilização do prestígio do presidente, que,

além de pessoal, é também institucional, na pugna política diária.

Chama a atenção que nenhum procurador da República – nem mesmo

candidatos ou partidos – haja pedido o cancelamento das candidaturas

beneficiadas, se não para obtê-lo, ao menos para refrear o abuso. Por

que não se faz? Porque pouco a pouco nos estamos acostumando a que é

assim mesmo.



Na marcha em que vamos, na hipótese de vitória governista – que ainda

dá para evitar – incorremos no risco futuro de vivermos uma simulação

política ao estilo do Partido Revolucionário Institucional (PRI)

mexicano – se o PT conseguir a proeza de ser “hegemônico” – ou do

peronismo, se, mais do que a força de um partido, preponderar a figura

do líder. Dadas as características da cultura política brasileira, de

leniência com a transgressão e criatividade para simular, o jogo

pluripartidário pode ser mantido na aparência, enquanto na essência se

venha a ter um partido para valer e outro(s) para sempre se opor, como

durante o autoritarismo militar.



Pior ainda, com a massificação da propaganda oficial e o caudilhismo

renascente, poderá até haver a anuência do povo e a cumplicidade das

elites para com essa forma de democracia quase plebiscitária.

Aceitação pelas massas na medida em que se beneficiem das políticas

econômico-sociais, e das elites porque estas sabem que nesse tipo de

regime o que vale mesmo é uma boa ligação com quem manda. O “dirigismo

à brasileira”, mesmo na economia, não é tão mau assim para os amigos

do rei ou da rainha.



É isto que está em jogo nas eleições de outubro: que forma de

democracia teremos, oca por dentro ou plena de conteúdo. Tudo o mais

pesará menos. Pode ter havido erros de marketing nas campanhas

oposicionistas, assim como é certo que a oposição se opôs menos do que

devia à usurpação de seus próprios feitos pelos atuais ocupantes do

poder. Esperneou menos diante dos pequenos assassinatos das

instituições que vêm sendo perpetrados há muito tempo, como no caso

das quebras reiteradas de sigilo. Ainda assim, é preciso tentar

impedir que os recursos financeiros, políticos e simbólicos reunidos

no Grupão do Poder em formação tenham força para destruir não apenas

candidaturas, mas um estilo de atuação política que repudia o

personalismo como fundamento da legitimidade do poder e tem a

convicção de que a democracia é o governo das leis, e não das pessoas.



Estamos no século 21, mas há valores e práticas propostos no século 18

que se foram transformando em prática política e que devem ser

resguardados, embora se mostrem insuficientes para motivar as pessoas.

É preciso aumentar a inclusão e ampliar a participação. É positivo se

valer de meios eletrônicos para tomar decisões e validar caminhos. É

inaceitável, porém, a absorção de tudo isso pela “vontade geral”

encapsulada na figura do líder. Isso é qualquer coisa, menos

democracia. Se o fosse, não haveria por que criticar Mussolini em seus

tempos de glória, ou o Getúlio do Estado Novo (que, diga-se, não

exerceu propriamente o personalismo como fator de dominação), e assim

por diante. É disso que se trata no Brasil de hoje: estamos decidindo

se queremos correr o risco de um retrocesso democrático em nome do

personalismo paternal (e, amanhã, quem sabe, maternal). Por mais

restrições que alguém possa ter ao encaminhamento das campanhas ou

mesmo as características pessoais de um ou outro candidato, uma coisa

é certa: o governismo tal como está posto representa um passo atrás no

caminho da institucionalização democrática. Há tempo ainda para

derrotá-lo. Eleição se ganha no dia.

Nenhum comentário: